Sentei-me aqui. Pensei. Não sou "O Pensador", não sou. Ele ficaria envergonhado. Não tenho um rochedo que se perde nos meus tornozelos, não tenho um mar, não tenho um riacho sequer. Nem tenho em que pensar. E ainda assim penso. Penso preto, de volta ao branco onde sempre estive. E podia estar rosa, e podia estar azul. E ainda melhor, podia estar vermelha. E não estou. Depois do absinto o que sobra? Depois de um estado tão lato de embriaguez pego na tua mão. Não; tu é que pegas na minha. E tu é que me dizes "Vai, vai, vai". Não sendo como o outro poeta, ou outro cujo nome já esqueci, digo "Não vou, não vou, não vou". Ele ficaria envergonhado. Por isso nem chego a dizer, nem chego a viver. Faltam-me livros, falta-me a música, faltas-me tu. E leio-vos a todos, e a todos vos amo ao ver. Fico embriagada mais uma vez, até ouvir a razão. Vão passar-se meses nisto. Nas intermitências da vida, ora agora sou vulgar, ora agora estou bem, ora agora sou vulgar, ora agora estou bem. Mal, bem, mal, bem, mal, bem, mal, bem. Acabo no bem e não me deixo derrotar. Hoje ainda não.