quinta-feira, janeiro 24, 2008

O Génio

Vagueando por esse mundo blogueiro, coisa aliás, que me tem consumido algum tempo ultimamente, não o desejável, mas bastante mais do que aquele que posso dispender, li algures, (eu sei onde foi, mas não quero fazer publicidade, que os outros podem ficar chateados), o nome de António Lobo Antunes.
Pensei de imediato que não é justo, nem sequer concebível, continuar este blog sem lhe prestar homenagem. Homenagem, pfff. Vá, mostrar aqui o quanto o aprecio.
Dou por mim, de quando em vez, a deambular pelas palavras, pela pontuação. Dou por mim a pensar: "Como é que ele faz isto?". E depois, o meu cérebro que tem tanto de boa-vontade como de estúpido, teima em tentar imitá-lo. (In)felizmente nada chega a acontecer. Nada mesmo. Sou só eu a escrever, eu e o amor que lhe tenho. As limitações que tenho são pequenos gigantes (ou gigantescos anões?), face ao universo da produção artística.
Ninguém lhe fica indiferente, é impossível. Do alto da sua arrogância, como quem diz à Ana Sousa Dias que a água se bebe em copos e não em canecas, diverte quem não se importar com um pouco de sarcasmo, sem preconceitos.
Não há crónicas assim, que faziam a visão parecer uma iguaria, nem que fosse pela maneira sôfrega como a folheava para o encontrar. As cartas escritas para a mulher, durante a guerra colonial, na condição de militar/médico são verdadeiros hinos ao amor, que mesmo depois de outros casamentos, o puseram ao lado dela, no leito da morte. Até nas vulgares entrevistas pós-cancro ele nos desarma na sua sinceridade cortante que fala da condição humana como ela é: a vida com a morte. A morte com a vida, aliás.
E o Nobel que tarda em chegar. Temo que nem sequer chegue a tempo.

8 comentários:

Maria del Sol disse...

Devo dizer, cara amiga, que não sei de onde vem essa falta de auto-confiança, porque este é o elogio de que um escritor mais deve gostar: chegar às pessoas, tocá-las, saber que acrescenta alguma coisa às nossas vidas com aquilo que conta.

Não sei se o intrépido Lobo Antunes o diria desta maneira, ele que desdenha medalhinhas e outras mesquinhezes, mas a verdade é que o humanismo profundo que transparece nos seus livros não mente sobre a sua pessoa. Mesmo se diz frases geniais e politicamente incorrectas como: "os leitores são umas putas, amam-nos e depois deixam-nos". Por isso é que a ele o Nobel não o aquece nem o arrefece. Ele é imenso e isso não se questiona ;)

Francisco disse...

nunca li nada dele mas não vou demorar muito a rectificar isso, entrevistas que li dele deixaram-me com uma curiosidade imensa.

ninguém disse...

hei-de ler os livros todos dele. aliás, já vou a meio.

Ji disse...

Gosto tanto de te ler. E gosto da sinceridade das tuas frases!
Quanto ao Lobo Antunes, é outra dimensão! Positiva, sem duvida!
Fazes-me bem!

Beijo na bochecha!

pegueitrinquei disse...

fuck, ainda não li!

Jaime disse...

Muito bem, dona! Eu também aprecio imenso o Lobo Antunes. Mesmo a tal arrogância vem embrulhada com uma ironia finíssima. Ele, na verdade, é-me simpático.
Li vários livros do Lobo Antunes. São duros, tristes, sem rodeios, e também irónicos, e por vezes pungentes. Retrata como ninguém o Portugal pequeno e mau, a guerra, a mesquinhez, a ditadura, a doença, o amor e a morte. Tens razão - um génio.

Ema disse...

é-me muito simpático mesmo. até gentil.

Menphis disse...

Partilho contigo essa paixão pelo António Lobo Antunes.

Confesso que é autor que foi com dificuldade que cheguei até ele.

Parecia-me arrogante, escrita bruta, que necessitava de tempo, de compreensão. Larguei-o e voltei a pegar nele várias vezes, sempre num gesto de humildade " ainda não o consegues ler", pensava eu, lia todos os outros livros de outros autores.

Confesso que depois de ler Rodrigo Guedes de Carvalho é que comecei a compreendê-lo melhor.

Gosto da "luta" que faço contra ele, e contra a sua escrita. Mas nunca o consegui vencer, a sua genialidade derrota-me sempre.