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segunda-feira, junho 02, 2008

Yves Saint Laurent : 1936 - 2008

Morreu o homem que dominava o bom gosto. O homem que me ensinou que tudo o que uma mulher necessita no seu guarda-roupa é uma camisola de gola alta preta.

segunda-feira, maio 05, 2008

Acção erosiva

Limaste-me as pontas, fui de diamante a carvão. Fiquei em bruto, coberta de flora. Erosão de ti, que me desgasta. E eu digo -não pares-. Tira-me de mim, põe-me onde quiseres. Anseio pelo teu vento, pelo teu mar galopante, deixaste-me, rocha, em areia. Agora leva-me.

Duchamp vs Richter = Sá Carneiro


"Eu não sou eu nem o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro"
Mário de Sá Carneiro

*(Nu descendo escadas, Duchamp; Ema - nú numas escadas, Richter)



segunda-feira, abril 21, 2008

Há três dias que não paro de o ouvir. Há três dias que fui buscar aquele cd à estante, onde o pó não perdoou e ele ficou esquecido. Ainda sei quando o comprei: 26 de Dezembro, 2000, prenda de Natal para mim mesma. Quando tinha de chorar, chorava ainda mais do que tinha, embrulhada na minha camisola verde de lã, no sofá verde também, na caneca de chá e no lenço de papel, na antiga morada. Transportei-me para a menina que deixei lá, nessa casa, para o coração partido por alguém que hoje não ocupa um segundo do meu tempo. Quando a ouço, naquele registo provável de ser a doce voz do amor, sou outra vez essa menina, dou outra vez o primeiro beijo, escrevo outra vez o nome dele no caderno, na mesa. De menina, dou graças por ser mulher, por me ter quebrado tantas vezes às mãos dos meios meninos meios homens que me povoaram. De mulher faço um brinde à sensualidade, à forma feminina que nos permite encostar à parede branca, fria, e dançar, dançar, dançar o swing e o flow que só ela soube inventar em forma de música. Dou, sem pedido, a benção a todos os dias maus do mês, a todas as lágrimas, a todas as crises hormonais de mau-humor, porque é bom ser assim. Numa conversa de amigas, acreditamos em todas as louva-a-Deus e viúvas negras, rimos, e dizemos que somos especiais. E somos.
À mulher que quando canta me faz a mim sentir mulher, Sade Adu, quem mais?

Post Scriptum em forma de dedicatória - "e a mais bela de todas, Emma, foi a primeira que numa noite de Outono, sob a folhagem ondulante do ulmeiro, meu deu a beijar os seus seios acastanhados, me deu a beber a taça da volúpia", Hermann Hesse. Obrigada, foi o grand finale para a nossa discussão feminina/feminista.

quinta-feira, abril 10, 2008

Era uma vez uma senhora que tinha um gato e um senhor que tinha uma gata. E a gata odiava o gato, e o gato, às tantas, já odiava a gata. E como a senhora era, ela mesma, uma gata, já odiava a outra também, e o senhor punha as garras de fora para o gato e fazia-lhe ffffffffff, por causa da gata. Vai na volta, o senhor odiava a senhora e a senhora odiava o senhor. Não por causa dos gatos. Por mágoas passadas, por coisas que o tempo não devolve, por feridas não abertas, não. Fechadas, disfarçadas pela quantidade certa de fond de teint. E eu sei que o senhor amava a senhora da maneira neurótica que a sua existência lhe permitia, e que a senhora o podia amar, não fosse o fond de teint. Os gatos são o transfere da luta intrínseca para o terreno, são a toma de partidos, de clubes. É assim que funciona. E não viveram felizes juntos, nem para sempre.




Relatório de estágio acabado, depois da maior ausência de sempre, voltei, com um texto esquizofrénico.

sábado, março 22, 2008

As mulheres e os sapatos

É verdade, nós temos um fraquinho por sapatos. Por acessórios em geral, mas na maioria dos casos por sapatos. É como os Homens com carros, com máquinas em geral. Bem sei que deve haver os que as abominam, como as que odeiam ter que ir a uma sapataria. Como em tudo, há que saber relativizar. Mas que para a maioria de nós uma montra recheada de sapatos é uma merecida paragem, é.


Ouvi esta história contada pela minha Mãe mil vezes, e mais mil vezes ouvirei porque nunca me canso de a ouvir relatar em episódios esporádicos a minha infância. Penso que teria 3 anos, mais ou menos. A minha Mãe queria uns sapatos. Para os poder escolher em descanso levou com ela, além de mim, a minha Tia, para ela tomar conta da pequena. Eu não era nada endiabrada, tenho a dizer, mas uma criança é uma criança... O desfecho não é nada de transcendente, aviso, e aproxima-se. Só quero partilhá-lo para confirmar o que acabei de escrever no primeiro parágrafo - a paixão por sapatos. A minha Tia, cuja tarefa era simplesmente olhar por mim, deve ter-se apaixonado por uns quaisquer saltos de agulha ou cunha, (não sei o que se usava na Primavera/Verão de 1988). Entretanto, eu, ao ver-me sozinha no meio de tantos saltos e fivelas que na altura ainda não faziam as minhas delícias, resolvi sair, e atravessar a estrada bastante movimentada, na passadeira. A proeza, que só aqui está para comprovar uma teoria, deve ter-me valido uma ou duas pamadas no rabo, muito provavelmente.


Sem querer insistir muito nisto, acho que é fácil adivinhar, mesmo para quem não percebe, o fascínio que preenche uma mulher, quando rodeada de sapatos, onde imagina os seus lindos pezinhos. Será sempre um cliché para quem vê de fora, um prazer para quem vê de dentro. E não faz mal nenhum.


Gostava ainda de mostrar o meu desagrado por certas coisas que ultimamente tenho lido e ouvido. "-Ah, os leitores da Vogue e da Elle não nos interessam muito...", "(...)futilidades(...)". Não percebo de que modo é que certas mentes não entendem que a Moda é tão fútil como a Música, o Cinema ou o Desporto. Tudo é show-off, tudo é para mostrar, tudo é teatro. Talvez os leitores da Maria ou da TV7 dias não sejam o público-alvo para nada que se prenda com qualquer actividade intelectual, é quase certo. Mas não tomemos as mentes dos leitores das grandes revistas de Moda como vazias, só porque sabem o que é um corte Bob, um cardigan, um vestido-cocktail, ou uma clutch.

E sim, é ressabiamento. Fiquei ofendida. :)

terça-feira, março 18, 2008

Devias.

"Hey Tom do you know for how long am I loving you / It's time to move on, to leave my heart for something new / I want to make you smile, I want to close your eyes, but I don't have the strenght"
Havias de gostar que te tivesse aquecido os pés, havias de gostar da sopa da minha Mãe ao Domingo à noite, havias de gostar dos meus braços cravados em ti, havias de ter gostado que olhasse para ti entre papéis de rebuçado, havias de ter gostado de fumos partilhados, de cheiros que mais ninguém sente. Havias de gostar dos meus ciúmes de outras, da tua roupa em mim. Havias de gostar do meu perfume, do meu sorriso. Havias de gostar da minha cabeça no teu ombro, nas canções partilhadas. Havias de gostar da minha prenda de Natal. Havias de gostar da minha morada e do meu número de telefone. Devias ter gostado de mim.


segunda-feira, março 17, 2008

Notas soltas em capítulos

I.
Quando estou num centro comercial enorme, gosto de me perder para depois encontrar a saída, sozinha. Sem perguntar a seguranças, nem a empregadas de balcão. Vasculho, observo e encontro, sozinha. Aprendo. E a única razão que encontro para esta analogia do Centro Comercial é o meu estado de espírito, meia perdida, meia acordada. Vendo a encruzilhada em que às vezes sei que estou, nem sempre sei sair dela. Acho que ninguém sabe, mas esta auto-consciência, além de estranha, torna imperativa a introspecção. Ei-la.

II.
A novidade que nos retira capacidades de resolução. O que é novo, nem sempre bom, é quase por regra marcante. E desorienta. Se não estamos habituados. Se nos descobrimos. Se nos vemos onde nunca nos vimos. E é mau. Depois é bom. Depois ainda, cai em mim e é mau outra vez. Dança, ao sabor da música que ouço, das palavras que me importam dos outros. Sempre assim: intermitente. Por isso é que a tal encruzilhada é embriagada, sempre a mudar de luzes, de tons. Como é que se escolhe um caminho quando ele anda à volta?

III.
Depois vem a punição. Hábito meu, que visto. Velho hábito meu. Se me descubro onde nunca me vi, se não faço o que é certo, ou pelo menos o que é perfeito. Dou murros no estômago, ponho o estômago mesmo a jeito de levar, para exorcizar a dor, com uma dor sentida também. Desliguei agora o aquecedor, em mais um gesto de murro. O frio e a fome fazem sentir-me acusada de uma culpa que não tenho.

IV.
Até me encontrar será assim. Até encontrar respostas. Sigo o mais penoso pela impossibilidade do mais fácil - tu. Sem punições, sem dramas - tu. Se pudesse estava já lá, à tua espera. Salva, mas sem me encontrar - tu. Ainda bem que não estás.

quarta-feira, março 12, 2008

Hiding other's tears in my eyes - live

Quem, por razões várias, (as minhas quase sempre monetárias), não vai a concertos, tenta dar a volta à frustração e impotência de uma outra qualquer maneira. Nem que seja por um minuto sentir a multidão, nem que seja ao longe vibrar, e mesmo com o som distorcido, fazer parte de um êxtase colectivo que não é fisicamente o nosso. Estar lá importa. No segundo de um pensamento, de um sentimento de quem gosta de nós. Os meus momentos ofereço-os também, e pego no telefone, e partilho aquela música, aquela luz... por pedido, por favor, por resolução própria, por prémio. (toma um presente: é para ti.)

Por tudo isto, importou lá estar. Importou ouvir "Boys don't cry" em directo do Pavilhão Atlântico, importou o barulho, e apesar de não ouvir o Robert Smith, importaram as outras vozes. Obrigada a quem partilhou.

domingo, março 09, 2008

Sentei-me aqui. Pensei. Não sou "O Pensador", não sou. Ele ficaria envergonhado. Não tenho um rochedo que se perde nos meus tornozelos, não tenho um mar, não tenho um riacho sequer. Nem tenho em que pensar. E ainda assim penso. Penso preto, de volta ao branco onde sempre estive. E podia estar rosa, e podia estar azul. E ainda melhor, podia estar vermelha. E não estou. Depois do absinto o que sobra? Depois de um estado tão lato de embriaguez pego na tua mão. Não; tu é que pegas na minha. E tu é que me dizes "Vai, vai, vai". Não sendo como o outro poeta, ou outro cujo nome já esqueci, digo "Não vou, não vou, não vou". Ele ficaria envergonhado. Por isso nem chego a dizer, nem chego a viver. Faltam-me livros, falta-me a música, faltas-me tu. E leio-vos a todos, e a todos vos amo ao ver. Fico embriagada mais uma vez, até ouvir a razão. Vão passar-se meses nisto. Nas intermitências da vida, ora agora sou vulgar, ora agora estou bem, ora agora sou vulgar, ora agora estou bem. Mal, bem, mal, bem, mal, bem, mal, bem. Acabo no bem e não me deixo derrotar. Hoje ainda não.

segunda-feira, março 03, 2008

"Used to be satisfied but now you feel like Mick Jagger"*

Insatisfação. Tenho-a sentido ultimamente. Nunca chega, nunca é bom suficiente, nunca me preenche totalmente, nunca me faz totalmente feliz. Nunca o meu ego cresce, nunca as minhas capacidades se desdobram, nunca o meu talento aparece, nem ao sol, pouco regado, como os cactos. Não chegam os elogios, não constroem as críticas, não me motiva nada. Ou pouco. A inspiração vejo-a de vez em quando, não chega para erguer o queixo na rua. Não sei porquê isto. Sou fácil de agradar. Muito fácil. Basta um gesto para a minha perpétua lealdade e admiração. Basta uma cedência, um abraço, uma palavra para a minha total atenção. Porquê isto agora? Acho que estou como as cobras, a mudar de pele. A falta de posts deve ter alguma coisa a ver com isto. E não foi este que me satisfez.


*Just Jack - Starz in their eyes

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Há um ano...

...em Praga. Há um ano atravessava agora eu, e as minhas companheiras (reisen mädchen) :) muito provavelmente, a fronteira alemã, para entrar na República Checa. Com algumas peripécias pelo caminho, que ficarão para uma próxima opurtunidade na vida ainda longa que pretendo dar ao meu blog, de madrugada chegámos ao destino. Praga parecia-me, para ser sincera, um sítio estranhíssimo. Eram 5h ou 6h da manhã, estava muito escuro, e nós perdemo-nos até ao hostel. Com estas condições não ganhou, de modo nenhum, um prémio no pódio de "Melhores Primeiras Impressões". Estava cansada, tinha fome, lembro-me dos meus olhos transparentes...
Já mais recomposta, a dar o passeio inicial, e ainda virgem pela cidade, pensava que era bonito, sem dúvida. Não percebia bem o alarido à volta da capital Checa, mas gostos são mesmo assim, não se discutem. Ao chegar perto do rio, se não me engano ao pé da Ópera, não muito longe da Charles' Bridge, senti-me finalmente iluminada. Fiquei sem fôlego, com aquela sensação de transcendência e impotência que remontam ao tão badalado sublime, e que nos deixam um pouco tontos por não controlarmos o que idealizamos. A ponte é magnífica, a outra metade da cidade é grandiosa. Pelo meio de torres religiosas várias, telhados e montes, espreitam as torres protagonistas do último capítulo d' "O Processo", as da Catedral, as de Kafka.
Aí, conquistou-me. Podia ter ido embora nesse preciso momento, e partir fã, apaixonada por ela, de qualquer maneira. Qualquer sítio, qualquer paisagem tem o seu brilho, mas Praga é quase o ideal estético em forma de cidade. Não nego que as haja mais bonitas; eu conheço aliás uma, que não revelo abertamente, para não ser conotada com excesso de patriotismo.
Praga pediu-me Bilhete de Identidade, Número de Contribuinte, da ADSE, Cartão da Faculdade, de modo a não mais a largar. A ter-me sempre por perto. E eu estou por perto: trago-a nas minhas melhores recordações.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

les misérables



um dia destes, a passar de carro pelo Rossio, reparei numa pessoa. não é novidade, eu reparo em muitas pessoas. nem tão pouco é inédito o que me veio à cabeça. muitas vezes sou assaltada por pensamentos assim, que apesar de tudo ainda me tornam num ser humano mais ou menos consciente.
ela baixa, preta, não muito magra, com um penteado tipicamente africano, com paupérrimo aspecto. a conversa das minhas amigas no banco da frente, as gargalhadas do costume e a amywinehouse a tocar no rádio passaram para uma outra dimensão, e eu fiquei ali, perdida em pensamentos, como é costume, até elas dizerem:
"-não foi ema?"
antes disto, dois minutos atrás, eu reparei na humildade dela, ao receber sucessivos nãos e olhares indiferentes. dois senhores voltaram então atrás, para lhe dar umas moedas, prémio da sua humildade, pensei eu. transportei-me para lá, imaginei-me dentro do corpo dela. como reagiria eu a tantos nãos? não bem, creio; com acessos de raiva contra uma sociedade que me pôs de parte. por tudo isto pensei na fortuna colossal que tenho, em ir passear para o chiado com amigos, no carro de uma delas.
tal como para a amy, as lágrimas dela também têm de secar por si próprias (tocava na rádio "my tears dry on their own"), não tendo ninguém que lhas seque. bem sei que não teria dinheiro para todas as esmolas que me são pedidas, diariamente, mas tenho pena de não pôr a mão na consciência mais frequentemente, e de não voltar atrás, como os dois senhores, por umas moedas, que significariam o "pão de cada dia nos dai hoje".


as minúsculas não foram um acaso da minha preguiça frente ao teclado: é que somos todos tão pequenos.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Untitled (sub tears)

E hoje chorei. No metro entre a Luz e a Praça de Espanha, chorei. Não é o primeiro blog que fala das lágrimas nos transportes públicos (pois não?), mas hoje aconteceu-me a mim. Não sei a causa, não sei razões, não sei se foi por me ter pesado, não sei se foi porque o continente não me aceitou o vale de descontos, não sei se foi porque hoje me sinto usada, humilhada, não sei se foi porque tenho saudades, não sei se foi pelo vazio. Mas chorei. Fui obrigada a esconder os olhos, a borratar a pintura, a pôr o destak à frente da cara, a pensar:
"- Não chores, não chores, não chores. Olha as pessoas."
E, no entanto, foi até um dia bastante cheio, um dia repleto de coisas novas, de boas companhias, de boas notícias. Que pico de emoções são estas, que por vezes me fulminam, me rompem, sem causa aparente? Que viram do avesso os meus dias, que os contrariam, mas que em nada para eles contribuem? Que só me assaltam porque me sentei aqui a escrever.
De qualquer modo, acho que hoje abri um precedente.

domingo, fevereiro 03, 2008

Olhos

Gosto de olhos, gosto. 00 Gosto mesmo. Gosto de olhos verdes, olhos castanhos, olhoz auis. Gosto muito de olhos escuros, e dos claros também, pintados de preto. Gosto de olhos de gato, de tigre e de coruja. De raposa, de serpente. Gosto de olhos rasgados, especialmente amendoados, e dos redondos também, que parece que se vêem no escuro. Olhos grandes, olhos pequenos, olhos que mentem, mas que mostram. Gosto de ver reflexo da televisão em olhos. E gosto muito de pestanas, longas, enroladas, mas gosto das curtas também, mais perspicazes. Gosto de pôr rimmel nos meus, do transparente, do bem preto. Gosto dos reviradores que parecem objectos medievais de tortura. Gosto de sobrancelhas grossas, gosto do sobrolho carregado. E adoro olhos fechados: _ _ . Amo olhares; quem não ama? Daqueles doces ou tristes, ou então dos outros à matador. Gosto da menina a mudar, sempre a mexer. Tão gorda, tão magra. Gosto do perigo que eles são, que nos fazem cair por terra, com a mais simples das mentiras.

Disseram-me uma vez que um elogio aos olhos é o melhor elogio que se pode receber. Eis aqui o meu elogio. Eu também acho que é.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

O Génio

Vagueando por esse mundo blogueiro, coisa aliás, que me tem consumido algum tempo ultimamente, não o desejável, mas bastante mais do que aquele que posso dispender, li algures, (eu sei onde foi, mas não quero fazer publicidade, que os outros podem ficar chateados), o nome de António Lobo Antunes.
Pensei de imediato que não é justo, nem sequer concebível, continuar este blog sem lhe prestar homenagem. Homenagem, pfff. Vá, mostrar aqui o quanto o aprecio.
Dou por mim, de quando em vez, a deambular pelas palavras, pela pontuação. Dou por mim a pensar: "Como é que ele faz isto?". E depois, o meu cérebro que tem tanto de boa-vontade como de estúpido, teima em tentar imitá-lo. (In)felizmente nada chega a acontecer. Nada mesmo. Sou só eu a escrever, eu e o amor que lhe tenho. As limitações que tenho são pequenos gigantes (ou gigantescos anões?), face ao universo da produção artística.
Ninguém lhe fica indiferente, é impossível. Do alto da sua arrogância, como quem diz à Ana Sousa Dias que a água se bebe em copos e não em canecas, diverte quem não se importar com um pouco de sarcasmo, sem preconceitos.
Não há crónicas assim, que faziam a visão parecer uma iguaria, nem que fosse pela maneira sôfrega como a folheava para o encontrar. As cartas escritas para a mulher, durante a guerra colonial, na condição de militar/médico são verdadeiros hinos ao amor, que mesmo depois de outros casamentos, o puseram ao lado dela, no leito da morte. Até nas vulgares entrevistas pós-cancro ele nos desarma na sua sinceridade cortante que fala da condição humana como ela é: a vida com a morte. A morte com a vida, aliás.
E o Nobel que tarda em chegar. Temo que nem sequer chegue a tempo.

terça-feira, janeiro 15, 2008

O Sublime


Mais um daqueles conceitos, que toda a gente sabe sentir, sabe o que é, mas que a dificuldade de o definir transforma-o em algo que ficou no século XVIII ou XIX, bem enterrado nas telas do Friedrich ou nos textos de Burke.


Podíamos tentar trazê-lo para nós, para o século XXI, e pensar no que sentimos, quando, do "alto" da nossa pequenez somos esmagados pela sublimação. Apesar de não querer estar aqui a teimar com o amigo Kant, cuja complexidade aprendi a amar, sem o conhecer ainda para tão nobres sentimentos, temo afirmar que o Sublime não tem de ser enorme. Não tem, tenho dito. É certo o que nos provoca a tal tempestade, ou o tal edifício gigantesco, mas será que há algo mais Sublime do que a cena do saco plástico esvoaçante em "American Beauty"? Será que não chega uma viagem de comboio ao som de "Claire de Lune"? Parece-me que sim. Se nos transcende é porque sim.


Às vezes, em frente ao mar, ou em frente às folhas caídas, qualquer um de nós se pode pôr de costas e ser uma personagem da tela pintada, a contemplar. Sentirmo-nos absolutamente insignificantes na Natureza e na Vida que nos envolve, mas no entanto, daí tirar prazer.


Toda a gente já sentiu. O Sublime acontece todos os dias, a toda a hora.


sexta-feira, janeiro 11, 2008

down, down, down.

Hoje precisava mesmo de te transformar em meu diário. Mas como é que se escreve o que não entendo, o que só sinto? Como é que se põe para aqui o que é de cá de dentro? Como é que a minha cabeça fala com o meu coração, que nem se vê, coitado. Está minúsculo. Eles que se resolvam, digo eu. A fingir que não é nada comigo. Mas é; é tão meu, estou tão lá, tão desconfortável, que evito estar. "A partir de hoje não falo mais disto", digo eu. Na esperança que a falta de som das palavras as ajudem a não me percorrer o corpo a cada minuto que passa. Mas não ajuda.
E a chuva de Janeiro que não lava nada disto?
Não sinto nada, ok? Não disse nada, não escrevi nada. Shiiuuu.





Deve ser do cansaço, com certeza.
Pode ser que agora, ao menos, consiga estudar.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

A dança dos guarda-chuvas

Dia 19 de Dezembro de 2007, o dia mais caótico de sempre. Pensava eu que o dia mais caótico do ano era o dia 24, sem qualquer hipótese de ter um outro dia qualquer a competir com ele. Mentira; prepara-te 24, o 19 passa-te aos pontos.
Chove, chove, chove. Chove sem parar por todo o país. É apocalíptico. Acordei às 10 da manhã, o que até podia ser bastante razoável se, pela escuridão que estava lá fora e pela dificuldade que os meus olhos tinham em se manterem abertos, não parecessem 6 da madrugada. Já nem vou falar dos afamados 15 minutos que uma pessoa demora a mais em dias destes. O atraso das pessoas com quem tinha compromissos também não vou referir. Já é um clássico; mais, acho que já é regra e norma.
Então, perguntam vocês, o que é que correu mal hoje? Hoje não correu mal, nem correu nada mal mesmo. Ainda consegui chegar bem-disposta a casa. O que torna o dia de hoje tão especial, é...(tambores)...a inaguração das estações de metro do Terreiro do Paço e Santa Apolónia. O metro à borla, coisa que eu acho particularmente simpática, (já achei a semana passada), tudo muito giro e tal. O problema foi que eu levei para aí 40 minutos da Baixa/Chiado até Colégio Militar/Luz. Citando o senhor que ia sentado ao pé de mim: "- Pronto, aumentaram isto mais um centímetro, e já não dão conta do recado!". Eu achei especial graça ao "centímetro", que faz o seu sentido. Esse senhor, qual Velho do Restelo, também disse coisas como: "- Este país não se pode, só espero que não demorem mais 50 anos a fazer outro 25 de Abril", "- São uns tótós!", "- O dinheiro da União Europeia vai acabar", entre outras coisas agradáveis e harmoniosas. Por acaso, um bem-haja (pareço o outro...) para esse senhor, que me distraiu com o seu discurso enquanto o metro parou imenso tempo a meio de um túnel, e enquanto a senhora ao pé de mim começava a entrar em pânico. Resta dizer que hoje as carruagens abarrotavam.
Bem, lá cheguei. Prenda para a Mãe; só não consegui embrulhar porque estavam 30 pessoas à minha frente. Aliás, estavam à vontadinha 20 biliões de pessoas no Colombo. Não, não estou a exagerar, eram mesmo 20 biliões. Lembrem-se que os deliquentes das escolas já nem sequer precisam de faltar às aulas, e podem simplesmente ir passear. E para onde é que se vai passear quando chove torrencialmente? Para o Colombo, obviamente. E nós, os delinquentes universitários, ainda aqui andamos...Enfim.
Volta para trás. Prenda para o Pai. E o meu espanto quando vi que no Corte Inglés estavam mais 3 milhões de pessoas? Não é fácil.
Molha até casa, claro. O condutor do camião que passou em grande velocidade por um lençol de água mesmo ao pé de mim contribuiu um bocadinho para isso. Só um bocadinho. Mas eu repito: até cheguei bem-disposta. Estou em casa agora, calmamente, a tentar secar as botas.
E o que é que isto tem a ver com o título? Tem, porque eu hoje tentei contar quantas vezes o meu guarda-chuva (chapéu de chuva, para os alfacinhas), todo contente por sair à rua, mandou encontrões nos guardas-chuvas das outras pessoas. Foram mais ou menos 150 toques. Quando não há espaço para andar, é natural que não haja espaço para guardas-chuvas.
E pronto, hoje é assim que me sinto, um mix de espírito natalício com outra coisa qualquer:

domingo, dezembro 16, 2007

Entardecer

Saí. Estava feito, arrumado. A sombra, que já ocupava mais de metade do espaço concedido à luz, lembrava-me das minhas sombras interiores. Lembrava-me que também eu me sinto vazia às vezes, que também eu caio.
Quando dói ali, ali no peito...-Dói onde? Dizem que é a alma.
Com dores no peito, com sombras e quedas, corri para o Tejo. Nunca é azul demasiado, nunca é grande de mais.
A cidade nele cai; por momentos esqueço a dor na alma, -Dói onde?, a dor no peito, aquela! Por momentos nem penso em ti.
E vejo como Lisboa é mágica, a uma sexta-feira, às 5horas da tarde. Provavelmente naquela sexta-feira, às 5horas.