
É verdade, nós temos um fraquinho por sapatos. Por acessórios em geral, mas na maioria dos casos por sapatos. É como os Homens com carros, com máquinas em geral. Bem sei que deve haver os que as abominam, como as que odeiam ter que ir a uma sapataria. Como em tudo, há que saber relativizar. Mas que para a maioria de nós uma montra recheada de sapatos é uma merecida paragem, é.
Ouvi esta história contada pela minha Mãe mil vezes, e mais mil vezes ouvirei porque nunca me canso de a ouvir relatar em episódios esporádicos a minha infância. Penso que teria 3 anos, mais ou menos. A minha Mãe queria uns sapatos. Para os poder escolher em descanso levou com ela, além de mim, a minha Tia, para ela tomar conta da pequena. Eu não era nada endiabrada, tenho a dizer, mas uma criança é uma criança... O desfecho não é nada de transcendente, aviso, e aproxima-se. Só quero partilhá-lo para confirmar o que acabei de escrever no primeiro parágrafo - a paixão por sapatos. A minha Tia, cuja tarefa era simplesmente olhar por mim, deve ter-se apaixonado por uns quaisquer saltos de agulha ou cunha, (não sei o que se usava na Primavera/Verão de 1988). Entretanto, eu, ao ver-me sozinha no meio de tantos saltos e fivelas que na altura ainda não faziam as minhas delícias, resolvi sair, e atravessar a estrada bastante movimentada, na passadeira. A proeza, que só aqui está para comprovar uma teoria, deve ter-me valido uma ou duas pamadas no rabo, muito provavelmente.
Sem querer insistir muito nisto, acho que é fácil adivinhar, mesmo para quem não percebe, o fascínio que preenche uma mulher, quando rodeada de sapatos, onde imagina os seus lindos pezinhos. Será sempre um cliché para quem vê de fora, um prazer para quem vê de dentro. E não faz mal nenhum.
Gostava ainda de mostrar o meu desagrado por certas coisas que ultimamente tenho lido e ouvido. "-Ah, os leitores da Vogue e da Elle não nos interessam muito...", "(...)futilidades(...)". Não percebo de que modo é que certas mentes não entendem que a Moda é tão fútil como a Música, o Cinema ou o Desporto. Tudo é show-off, tudo é para mostrar, tudo é teatro. Talvez os leitores da Maria ou da TV7 dias não sejam o público-alvo para nada que se prenda com qualquer actividade intelectual, é quase certo. Mas não tomemos as mentes dos leitores das grandes revistas de Moda como vazias, só porque sabem o que é um corte Bob, um cardigan, um vestido-cocktail, ou uma clutch.
E sim, é ressabiamento. Fiquei ofendida. :)